sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A cidade dos poços...




Aquela cidade não era habitada por pessoas, como todas as outras cidades do planeta.
Aquela cidade era habitada por poços. Poços vivos… mas afinal poços.
Os poços distinguiam-se entre si não somente pelo lugar onde estavam escavados, mas também pelo parapeito (a abertura que os ligava ao exterior).
Havia poços ricos e ostensivos com parapeitos de mármore e de metais preciosos; poços humildes de tijolo e madeira e outros mais pobres, simples buracos rasos que se abriam na terra.
A comunicação entre os habitantes da cidade fazia-se de parapeito em parapeito, e as noticias corriam rapidamente de ponta a ponta do povoado.
Um dia, chegou à cidade uma «moda» que certamente tinha nascido nalgum pequeno povoado humano.
A nova ideia assinalava que qualquer ser vivo que se prezasse deveria cuidar muito mais do interior do que do exterior. O importante não era o superficial, mas o conteúdo.
Foi assim que os poços começaram a encher-se de coisas.
Alguns enchiam-se de jóias, moedas de ouro e pedras preciosas.
Outros, mais práticos, encheram-se de electrodomésticos e aparelhos mecânicos. Outros ainda optaram pela arte, e foram-se enchendo de pinturas, pianos de cauda e sofisticadas esculturas pós-modernas. Finalmente, os intelectuais encheram-se de livros, de manifestos ideológicos e de revistas especializadas.
O tempo passou.
A maioria dos poços encheu-se a tal ponto que já não podia conter mais nada.
Os poços não eram todos iguais, por isso, embora alguns se tenham conformado, outros pensaram no que teriam de fazer para continuar a meter coisas no seu interior…
Um deles foi o primeiro. Em vez de apertar o conteúdo, lembrou-se de aumentar a sua capacidade alargando-se.
Não passou muito tempo até que a ideia começasse a ser imitada. Todos os poços utilizavam grande parte das suas energias a alargarem-se para criarem mais espaço no seu interior. Um poço, pequeno e afastado do centro da cidade, começou a ver os seus colegas que se alargavam desmedidamente. Ele pensou que se continuassem a alargar-se daquela maneira, dentro em pouco confundir-se-iam os parapeitos dos vários poços e cada um perderia a sua identidade…

Talvez a partir dessa ideia, ocorreu-lhe que outra maneira de aumentar a sua capacidade seria crescer, mas não em largura, antes em profundidade. Fazer-se mais fundo em vez de mais largo. Depressa se deu conta que tudo o que tinha dentro dele lhe impedia a tarefa de aprofundar. Se quisesse ser mais profundo, seria necessário esvaziar-se de todo o conteúdo…
Ao princípio teve medo do vazio. Mas, quando viu que não havia outra possibilidade, depressa se meteu a fazê-lo.
Vazio de posses, o poço começou a tornar-se profundo, enquanto os outros se apoderavam das coisas das quais ele se tinha despojado…
Um dia, algo surpreendeu o poço que crescia para dentro. Dentro, muito no interior e muito fundo… encontrou água!
Nunca antes nenhum poço tinha encontrado água.
O poço venceu a sua surpresa e começou a brincar com a água do fundo, humedecendo as suas paredes, salpicando o seu parapeito e, por ultimo, atirando a água para fora.
A cidade nunca tinha sido regada a não ser pela água da chuva, que na verdade era bastante escassa. Por isso, a terra que estava à volta do poço, revitalizada pela água, começou a despertar.
As sementes das suas entranhas brotaram em forma de erva, de trevos, de flores e de hastezinhas delicadas que depois se transformaram em árvores…
A vida explodiu em cores à volta do poço afastado ao qual começaram a chamar «o Vergel».
Todos lhe perguntavam como tinha conseguido aquele milagre.
- Não é nenhum milagre – respondeu o Vergel. – Deve procurar-se no interior, até ao fundo.
Muitos quiseram seguir o exemplo do Vergel, mas aborreceram-se da ideia quando deram conta de que para serem mais profundos se tinham de esvaziar. Continuaram a encher-se cada vez mais de coisas…
Do outro extremo da cidade, outro poço decidiu correr também o risco de se esvaziar…

E também começou a escavar…
E também chegou à água…
E também salpicou até ao exterior criando um segundo oásis verde no povoado…
- Que vais fazer quando acabar a água? – perguntavam-lhe.
- Não sei o que se passará – respondia ele. – Mas, por agora, quanto mais água tiro, mais água há.
Passaram-se uns meses antes da grande descoberta.
Um dia, quase por acaso, os dois poços deram-se conta de que a água que tinham encontrado no fundo de si próprios era a mesma…
Que o mesmo rio que passava por um inundava a profundidade do outro.
Deram-se conta de que se abria para eles uma vida nova.
Não somente podiam comunicar um com o outro de parapeito em parapeito, superficialmente, como todos os outros, mas a busca também os tinha feito descobrir um novo e secreto ponto de contacto.

Tinham descoberto a comunicação profunda que somente conseguem aqueles que têm a coragem de se esvaziar de conteúdos e procurar no fundo do seu ser o que têm para dar…

Contos para pensar, Jorge Bucay.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Para lá da porta...



Aqui vai mais um pouquinho deste reino maravilhoso.



Estela escavada na rocha lateral direita das ruinas da Igreja de São Mamede



Outra foto da mesma Estela


Pedras de um possível arco da Igreja de São Mamede


Ruínas da Igreja de São Mamede

Outro perfil das ruínas da Igreja de São Mamede

sábado, 24 de novembro de 2007

Para lá da porta







Para lá de qualquer porta esconde-se sempre algo que só nos é revelado se esta se abrir, assim vou tentar abrir a porta deste recanto maravilhoso em que tenho a graça de viver e que guarda segredos que urge partilhar.


As pedras são sempre uma forma excelente de gravar a memória dos tempos, se elas falassem a nossa linguagem por certo teriam muito que nos contar. Inicio hoje uma série de postagens de algumas memórias de tempos de antanho que as pedras trouxeram até nós e que nós corremos o risco de as perder se nada fizermos para as preservar.





( Serpente gravada na rocha)


Começo por partilhar convosco a primeira das pérolas do Povoado do Baldoeiro, uma serpente gravada numa das muitas rochas de granito existentes na zona.


(A mesma imagem tirado de mais perto)


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Quando tudo se cala...


Quando tudo se cala em mim
Só Tu segredas ao meu ouvido
Vem para mais perto
Aconchega-te no Meu colo...

Quando tudo se cala ao meu redor
Só a Tua presença me inebria
Com a voz melodiosa que toca
As cordas do meu coração...

Quando tudo se cala em mim
Até as pedras me falam de Ti
Deus amante e fonte de todo o amor
Verdadeiro e autêntico...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Todo o cuidado é pouco

Fazendo a visita habitual a alguns blogs, que são minha leitura quase diária, deparei-me com este post no blog da Conceição Bernardino - http://amanhecer-palavrasousadas.blogspot.com/ - e ainda que sem sua autorização achei que era meu dever publicá-lo tembém neste nosso cantinho. Peço desculpa pelo plágio, porém creio que a Conceição e a autora desta postagem não levam a mal a minha ousadia.





Leiam até ao fim, especialmente quem tem filhos, sobrinhos, etc.

Infelizmente é este o nosso mundo...Olá a todos,Na Quarta-feira dia 31 de Outubro, véspera de feriado, vim deixar os meus dois filhos do meio (tenho 4 filhos), de 5 e 4 anos, a casa por volta das 18.30 com a minha empregada que estava em casa com a mais pequena e voltei a sair para ir tratar de uns assuntos pessoais. Eram mais ou menos umas 19.00, quando recebo uma chamada de casa, no meu telemóvel; era a minha empregada a perguntar-me se eu tinha pedido a alguém para vir buscar os meus filhos de 4 e 5anos, eu fiquei um bocado confusa na altura, e disse-lhe que não mas porquê, ela respondeu-me que estava um homem no intercomunicador do prédio a dizer que vinha buscar os meus filhos e que tinha mesmo dito o nome deles, comecei a ficar cada vez mais assustada e disse-lhe para lhe perguntar quem era ele e quem o tinha mandado, ao que ele respondeu dizendo que era o João Pereira e que tinha sido a D.Marta (eu) que lhe tinha dito para vir buscar os meninos; ela ia-me contando tudo mas com o intercomunicador desligado, para ele não perceber e eu pedi-lhe para ela lhe perguntar para onde ele queria ir, porque estava na esperança que ele se tivesse enganado no andar e que por muita coincidência houvesse alguém com o mesmo nome que eu e com duas crianças com os mesmos nomes que os meus filhos, mas a minha empregada percebeu que era para lhe perguntar para onde ele ia com as crianças e quando ela fez essa pergunta, quem estava al¡ em baixo, não respondeu mais, e ela ouviu um barulho que possivelmente era a porta da entrada a bater (talvez de alguém que tinha saído).Claro que fui directa à esquadra mais próxima de casa, onde me disseram que não podiam fazer nada, nem tirar impressões digitais, nem sequer apresentar queixa porque, uma tentativa de rapto, não é considerado um crime e que a responsabilidade é toda dos pais, etc etc etc....
Basicamente além de me ter assustado, ainda mais dizendo que estes casos são mais comuns do que se pensa, perguntaram-me a que Jardins públicos eu ía, ao que respondi ao Jardim da estrela e ao jardim da parada em campo de Ourique, e o Polí­cia disse-me que existem pedófilos referenciados nestes Jardins e que ele próprio já tinha visto um homem a tirar fotografias a crianças que não lhe eram nada!!!!!!!!!!!!!!
Enfim isto para dizer que o perigo é bem mais real do que aquilo que eu, pelo menos, imaginava! E é por isto que mando este mail com esta história inacreditávelque se passou comigo e que como é óbvio me deixou bastante assustada e muito preocupada.Fomos aconselhados a ir directamente à polí­cia Judiciária e é o que vamos fazer amanhã, fora isto não há muito mais a fazer a não ser espalhar esta história pelo máximo numero de pessoas possí­vel, 1º para estarmos todos com muita atenção, porque pelos vistos isto não se passa só nos filmes, e depois porque tenho esperança que alguém já tenha ouvido um caso parecido e me possa dizer alguma coisa, ou ajudar de alguma maneira!Peço por isso que espalhem este mail por todos os vossos conhecidos e amigos e que se alguém souber de alguma coisa, que me responda para o meu email
marta.lino@sapo.pt
Obrigada,
Marta Lino

sábado, 17 de novembro de 2007

“O tempo está próximo”.


«Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: “sou eu”; e ainda: “O tempo está próximo”. Não os sigais.»

Lc 21, 8.

Senhor, com quanta facilidade nos deixamos arrastar pelas modas e pelas solicitações do mundo...
Parece tão fácil ceder ás ilúsórias propostas de felicidade e tão dificil escutar a Tua voz, ajuda-nos a apurar o ouvido para a Tua palavra.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O ESCULTOR E A TARDE

No meio da tarde
Um homem caminha:
Tudo em suas mãos
Se multiplica e brilha.




O tempo onde ele mora
É completo e denso
Semelhante ao fruto
Interiormente aceso.


No meio da tarde
O escultor caminha:
Por trás de uma porta
Que se abre sozinha
O detino espera.


E depois a porta
Se fecha gemendo
Sobre a Primavera.
Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 6 de novembro de 2007

sábado, 3 de novembro de 2007

Rumo a novas comunidades




Creio, Senhor,

que no termo do caminho já não há caminho,

mas o fim da peregrinação.

Creio que no termo da escalada

já não há escalada, mas cume do monte.

Creio que no termo da noite

já não há noite, mas aurora.

Creio, Senhor,

que no termo do Inverno

já não há Inverno, mas primavera.

Creio que após o desespero

já não há desespero, mas esperança.

Creio que no termo da espera

já não há espera, mas encontro.

Creio que depois da morte

já não há morte, mas vida.

Creio que no termo da humanidade:

não haverá mais o homem velho,

mas estarás Tu, ó Cristo Jesus,

Deus feito homem

e serás a Vida plena e abundante do Homem Novo!

Joseph Folliet





Como dizia no post de 26 de Outubro fui recentemente nomeado pároco de quatro novas paróquias deixadas vagas pela morte de um colega, hoje tomei posse de duas delas.
Iniciei a minha missão de pároco celebrando uma eucaristia em memória do meu antecessessor. Foi um dia em que vivi uma mescla de emoções, por um lado a dor solidária dos familiares do meu defunto colega, por outro a alegria sincera de um povo acolhedor que me recebeu de braços abertos e ainda pelo facto de ter conhecido pessoalmente alguém que já conhecia da blogoesfera, que por coincidência é sobrinha(o) do meu antecessessor. Creio poder dizer que foi um dia em cheio.



sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Quem são...


«Esses que estão vestidos de túnicas brancas,quem são e de onde vieram?».
«São os que vieram da grande tribulação,os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro».
Ap 7, 13-14.